Espero
o sinal de pedestre abrir para poder atravessar a rua. Do lado oposto vejo uma
mulher subindo a via falando ao celular tão absorta que tropeçou num desnível
da calçada, mas nem assim largou o aparelho.
Do
ponto pouco abaixo parte o ônibus que vai subindo paralelamente à aluada do
celular para dobrar a esquina logo a seguir.
E
não é que a infeliz, distraída , rindo ao celular, não respeitou o sinal de
pedestres fechado e seguiu em frente literalmente se jogando na frente do
ônibus? Morte instantânea!
Do
meu lado da rua seguro o grito e assisto impotente à cena toda.
Pela
filmagem de uma câmera de segurança vejo dois homens entrarem armados numa
pizzaria.
Logo
em seguida um rapaz, distraído por sua conversa ao celular, vem andando pela
mesma rua. Ao passar pela porta da pizzaria, provavelmente ouviu as ameaças dos
ladrões e parou com o celular na mão, atônito, aluado, usando seus últimos segundos
para tentar entender o que acontecia ali. Não deu tempo! Morreu com um balaço.
Através
da janela do ônibus parado no semáforo, vejo no carro ao lado duas mocinhas com
os vidros escancarados a fim de amenizar o calor do verão. Uma delas, a
passageira, falava ao celular intermediando a conversa entre a motorista e quem
quer que seja que estivesse do outro lado da linha.
Uma
moto com dois homens para ao lado e o garupa tira um revólver de dentro da
jaqueta, apontando para a moça e exigindo o celular. Nisso o ônibus arranca e
só ouço o estampido do tiro.
Começo
a ter saudades do primeiro telefone que apareceu lá em casa: preto, pesadão,
com um disco central e ligado à tomada por um cabo revestido de pano também
preto. Este só matava se jogado contra a cabeça de alguém.
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