Pavor! Pavor insano
mesmo! E agora? Calma. Primeiro procurar na folhinha a data e depois fazer
contas. Meu Deus! Isso será muito azar! Isso não pode acontecer comigo! Não a
esta altura da minha vida!
Triiiimmmm! Triiiimmmm!
Só me faltava essa! É
ele! Parece que cheira as coisas!
- Oi.
- Oi. Nossa! Você está
bem? Tá com uma cara...
- Cara de quê? É claro
que estou bem! O que você quer?
- Ihhhh, TPM ainda?
Melhor eu chamar outra hora?
- Não! Desculpe, ando
dormindo mal. Tô cansada.
Três dias de atraso.
Por que fui na conversa dele? Mas ele está operado já faz quase 1 ano! Deixa eu
ver... nesse tempo ele passou a metade fora viajando, no início a gente
continuou usando tabelinha e camisinha o que dá ... um puta azar se eu estiver
grávida!
Filhos na minha idade?
Minha coluna não aguenta, minha paciência menos ainda. Adeus viagens, adeus
liberdade! Meu Deus me livra dessa! Calma, raciocina. Na sua idade é quase
impossível! A taxa de fertilidade cai vertiginosamente. É, mas nunca atrasei na
vida! E já está 3 dias atrasado. Ai que medo! Um alien dentro de mim!
Mais um dia amanhece,
corro ao banheiro e ... nada! Ai que agonia! Chá de salsinha! Isso! Chá de
salsinha faz descer. Chá de canela também! Ou era para cólicas? Na dúvida, chá
de salsinha com canela!
Argh! Acho que vou
vomitar! Coisa ruim demais!
Trimmmm! Trimmmm!
- Oi.
- Dormiu melhor?
Cansada ainda?
- Tô melhor sim. O que
você quer? Tava de saída.
- Saída?! Assim?
Puta que o pariu
esqueci da câmera!
- Não! Estou atrasada,
preciso me arrumar! Fala logo o que você quer!
- Nada em especial.
Queria saber de você. Tô preocupado. Você está estranha. Não vai me dizer o que
está acontecendo?
- Não está acontecendo
nada! Muito trabalho, os problemas de sempre e insônia. Quando você volta?
- Depois de amanhã.
Vou direto do aeroporto para a sua casa.
- Que horas você
chega?
- Ainda não sei. Estou
tentando um voo logo depois do almoço, senão só à noite.
O dia transcorreu
normalmente, mas a agonia não sumia. Era só dar uma parada nos afazeres para
ela voltar. Santo Deus, como na maturidade certas agonias são quase
insuportáveis! Talvez a falta de experiência, a falta de saber exatamente o que
se quer da vida, nos faça ser mais maleáveis e nos faça aceitar melhor as coisas.
Neste momento da minha vida já não quero mais fazer limonadas com os limões que
a vida por ventura me der.
Mais um dia e nada! À
noite, já em casa, abro uma garrafa de vinho. Vinho, álcool, segundo a vovó era
melhor que o chá. Entorno a garrafa toda, assim pelo menos me fará dormir. De
manhã corro ao banheiro e mais uma vez nada!
Chega de agonia! O
negócio é fazer logo um exame e acabar com isso. Ligo para o consultório do
médico onde sou informada que consulta só para dali uns 15 dias, mas que conseguiria
um encaixe no fim da semana seguinte. Desgraça! Até lá morrerei de angústia!
Hmmmm, mas o que é
isto que estou sentindo? Uma cólica talvez? Que nada!
Que burrice! A vida
inteira me controlando para não passar por essa angústia e agora depois de macaca
velha me acontece isso?!
Teste de farmácia!
Isso! Tudo bem que não são muito precisos, mas acho que dá para me acalmar ou
não até a consulta.
- Bom dia, o senhor
tem teste de gravidez?
- Temos sim. Ali
naquela gôndola.
Ao chegar na tal
gôndola quase choro: no mínimo meia dúzia de marcas diferentes. Por que a gente
não pode simplesmente pegar um teste de gravidez? Unzinho só? Tem que ter
opções? Numa hora destas tem como pensar nas opções?
- Posso ajudar?
Olho atônita para a
funcionária da farmácia, uma mocinha de uns 18 no máximo 19 anos. Como ela
poderia me ajudar? O que ela saberia para me ajudar?
- Eu... eu... não sei
qual escolher ...
- Ah, simples. Não
leva este porque ele falha. Para mim deu negativo, mas eu tava grávida. Esse
aqui nunca usei, não sei. Olha, o que sempre uso e que dá certo é este. Pode
levar. Pode confiar!
Meio trêmula peguei a
caixinha da mão da moça e fiquei olhando-a.
- Menina, quantos
filhos você tem?
- Nenhum. Era para eu
ter uns quatro já, mas eu tiro todos. Sou muito nova para ser mãe.
Com essa perdi o rumo.
Repentinamente não sabia nem onde estava, para onde ia.
- Senhora, mais alguma
coisa?
- Nã-não!
- O caixa é ali então.
Em casa olho a caixa
como quem fita um monolito, um oráculo que ditará o resto da minha vida. A bula
quilométrica explica tudo, da rebimboca da parafuseta até o sexo dos anjos.
Assim pulo as informações técnicas e passo para o que realmente interessa: que
cor tem que ficar para ser negativo.
Pronto! Agora é só
esperar sete minutos. Pego o timer da cozinha e ajusto o tempo, quando ouço a
campainha. Quem será? Não estou esperando ninguém...
-Ué, você? Não vinha
só amanhã?
- Terminei antes e
vim. Não está contente em me ver?
- Não é isso. Você não
está cansado? Não quer ir para a sua casa? Tomar um banho? Depois você vem. Na
boa, agora estou terminando uma coisa, não esperava você hoje e não vou poder
te dar atenção.
- Não posso entrar?
- Claro! Pode! Vem!
Meu Deus! E agora? Não
queria que ele soubesse de nada. Não agora. Se der negativo, nem precisa saber.
Se der positivo nem sei o que vou resolver. Aborto não encaro, mas ... Afe!
- Karin, o que está
acontecendo?
- Nada!
- Pára com isso! Você
acha que sou algum idiota? É claro que está acontecendo alguma coisa! Você está
com outro?
Não acredito! Eu no
meio de um problemão destes e ele está pensando que eu tenho outro?! Homens! Só
pensam em sexo! Se eu sair desta nunca mais transo na vida! Ou melhor, nunca
mais transo enquanto não estiver na menopausa!
- Anda, Karin, me
fala! Quem é? Eu conheço?
- Você é um
insensível, um ridículo! Vai embora! Não volta mais aqui!
E assim me tranco no
banheiro aos prantos. O timer me assusta com sua campainha estridente. Olho o
pedaço de plástico e graças a Deus está verde.
- Karin, abre! Que
caixa é esta que estava sobre a mesa de jantar? Você está grávida? Como assim?
Eu me operei!
Abrindo a porta
aliviada, testo:
- E se estiver?
De olho arregalado ele
responde:
- Para quem já tem
seis o que é mais um? Mas como isso é possível? Eu me operei. Eu fiz todos os
testes. A gente tomou cuidado nos primeiros meses ...
- Você acha que eu
dormi com alguém?
- Não! ... Dormiu?
- Claro que não!
Mostro, então, o teste
negativo e ele respira aliviado.