Dos tempos de criança, filha de
imigrantes fugidos da guerra que aportaram por aqui sem eira nem beira,
ficou-me a impressão de que para andar de taxi, há que se ter muito dinheiro.
Engraçado como certas opiniões e
vivências nos marcam para uma vida toda.
Hoje tudo depende, ou melhor,
dependendo do lugar que se vá e o horário, uma corrida de taxi pode sair muito
mais barato que ir de carro, já que quando se computa a gasolina gasta, o custo
do valet/flanelinha/estacionamento e o tempo gasto no trânsito uma vez que em
certos horários os taxis podem andar nas faixas de ônibus, vale mais a pena
pegar um carro de praça.
Chamar um carro de aluguel também
ficou mais fácil, já que atualmente é só sacar meu celular, pedir um e menos de
5 minutos depois ele está na minha porta, com o aplicativo berrando: “táxi!”.
Por outro lado, hoje em dia está
cada vez mais difícil achar um sem a ajuda do aplicativo, já que parece que os
taxis vazios não existem mais. Que dificuldade pegar um na beira na calçada,
esticando o braço como se fazia antigamente.
Isso me lembra um mico que passei na
Avenida Paulista. Amo esta avenida, mas quando venta... Foi lá que aprendi na
pele o que é um vento encanado.
Que ventania fazia aquele dia! Ela
corria pela avenida inteira fazendo voar tudo que encontrava pela frente, era
palpável! Tão palpável que com seus dedos ágeis e fortes arrancava bonés,
perucas, papéis das mãos dos incautos e com esses mesmos dedos, enchia olhos de
fuligem e areia, dava tapas nas faces fazendo acordar as sinusites adormecidas.
Que gelo!
Eu vinha caminhando na beirada da
calçada, contra o vento, tentando preservar os olhos e brigando com um
casaquinho de lã, a fim de vesti-lo. Contudo a ventania era tanta e tão forte
que atrapalhava a colocação do casaco. Além disso, trazia no ombro uma bolsa
bem pesada.
Já muito irritada com a luta,
tremendo de frio, a um dado momento equilibrei o casaco ao vento e com um
movimento brusco e forte tentei enfiar o braço livre da bolsa na manga do
casaco. Acontece que o vento era tão forte que tirou o casaco da posição e meu
movimento brusco e raivoso, além da bolsa pesada, me tiraram o equilíbrio de
maneira que o casaco voou longe.
Nesse mesmo momento um taxi freou
bruscamente ao meu lado e logo abriu a porta para que eu entrasse.
- Moço, não vou pegar taxi.
- Como? Você fez sinal! Eu brequei e
quase causei um acidente.
- Eu? Sinal? Não moço. Tava vestindo
meu casaco!
- Casaco? Que casaco?
- O que o vento levou!
- Mocinha que brincadeira é essa?
- Moço, tô falando a verdade. O
casaco voou!
- Ora bolas! Cada uma! Fala a
verdade, menina! Você fez sinal e agora se arrependeu, né? Vê se não faz mais
isso, viu?
E assim saiu bravo, louco da vida comigo.
E eu fiquei ali atônita, envergonhada, sem casaco.
Será que quanto mais a tecnologia
avançar para nos facilitar a vida, mais nos tirará de situações pitorescas como
esta?
O que meus netos contarão para seus
filhos?
- Eu apertei o botão e ele não funcionou...
Daí peguei meu outro dispositivo, liguei um cabo e ele consertou o mal
funcionamento do botão em 2 milissegundos. Podia ser mais rápido, eu sei, mas
ainda não consegui a nova versão desse aplicativo.
Ai
que saudades de quando as portas dos taxis eram amarradas com cordas! A vida
era mais simples, honesta e engraçada