segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Morreu de quê?



Morreu de quê? De impotência. A impotência de vencer o medo da mudança a matou.
Quando a cegueira nos impede de ver a pequena distância que existe entre o imenso abismo que imaginamos existir e a realização de nossos sonhos, só nos resta o desespero e a morte. Como se a morte fosse solução para algum problema!
Nem sei bem por que fui, uma vez que não nos falávamos há algum tempo. Por que mesmo paramos de nos falar?
Já à beira do caixão tentei reconhecer aquela pessoa que ali jazia: cabelos muito mais brancos – desleixo? Moda atual? -, pele muito mais vincada pelo tempo, ar cansado, sofrido. Meu Deus! O que houve com aquela pessoa tão vaidosa, tão “perua”?
Diferentemente dos velórios convencionais, não havia ninguém chorando copiosamente. Uma ou outra lágrima teimava em fugir, mas nenhum desespero, nenhuma falta histericamente expressada. Será esse o fim de quem escolheu uma vida à margem dos padrões sociais vigentes?
Olho a amiga de uma vida, real depositária dos últimos desejos, flanando pela sala como uma diva, com dois celulares à mão, ora falando em um, ora em outro, recepcionando as pessoas como a anfitriã de uma festa. Nem mesmo a tal “amiga-irmã” sentiu a partida repentina?!
Nessas horas penso como é a vida, como é difícil enxergarmos aquilo que está a dois palmos de nossos narizes! Que loucura!
Morreu incapaz de lidar com o medo de ficar sozinha, já que a tia de 98 anos que a criara estava internada, no limiar de sua vida.
Uma embolia a levou um mês antes da tia. Um êmbolo de medo, que se formou a partir de sua incapacidade de enxergar que no fundo, mas bem lá no fundo, estamos todos sozinhos e preenchemos nossas vidas com um milhão de afazeres e outro montão de afetos feitos de verniz para não termos de nos deparar com esse vazio. Ou será que finalmente enxergou e se desesperou, achando-se sem saída?
Uma pena! Aos que têm a coragem de encarar seu mundo interior ganham a liberdade plena. A liberdade de não ter mais medo de nada, de não sentir mais o vazio, de não se sentir mais sozinho, de ansiar por novas aventuras.

Rezo por ela, pedindo que seja recebida por amigos e que acabe entendendo todos os porquês de sua vida. 

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