segunda-feira, 1 de junho de 2015

O pacote

- Tia, eu não tenho irmãos, então os meus filhos não vão ter tia, né?
- É sim, Viktor.
- Mas tia, e quem vai levar eles no dentista como você me leva?
- Ela é minha tia!
- E daí, quem vai morar com ela sou eu!
- Não pode! Você não é filho dela! Seu burro!
- Meu pai vai casar com ela e eu vou morar com ela! Cabeção!
- Ei, meninos, chega de briga!
- Mas mãe, ela é minha tia!
- Viktor, ela é sua tia porque é minha irmã e quando casar com o pai dele vai ser madrasta dele.
- Nãooo, não quero! Ela não vai ser minha madrasta porque ela é legal!
- Karin, posso falar uma coisa com você?
- Claro!
- Então, não sei como... meu pai vai me arrancar o couro...
- O que foi? O que tá acontecendo?
- Acho que a minha namorada tá grávida...
- Você já falou com sua mãe?
- Não! Não adianta. Ela vai mandar eu me virar com meu pai...
- Não dá mais! Ele é muito teimoso! Nada do que eu digo ele aceita. Então pra quê que eu fui estudar? Vou cair fora! Vou arranjar um emprego e ele que se vire!
- E você acha que com patrão estranho vai ser diferente? Que você vai chegar com seus diplomas e todo mundo vai dizer amém? Aposto que se você mostrar para seu pai que do seu jeito também pode dar certo, ele vai aceitar. Mostre que você sabe do que está falando. Por enquanto você só mostrou insegurança, quando quer a aprovação dele. Larga a barra da calça dele e assuma os riscos. Seja profissional.
- Alô, Zizi? Eu machuquei o meu dedinho. Você pode vir aqui na minha casa curar ele?
- Periquito, sua mãe já não pôs remédio? Agora tem de esperar o remedinho curar...
- Não, Zizi, minha mãe não é doutora. Eu quero você!
- Amor, eu sou doutora de bichinho...
- Ué! Mas eu não sou seu periquito?
Dia das mães. O que é uma mãe? Quem pare? Quem cria? Quem ajuda a cuidar?
Nunca quis esse ofício, por não me achar capaz, tanto que nunca pari. Mas a vida a gente não controla, nem programa. Assim encarei um sobrinho até os cinco anos de idade, com direito a troca de fraldas, papinhas até ir fazer a adaptação no jardim da infância e não satisfeita, essa mesma vida me arranjou seis filhos do coração. Cada um numa idade, numa fase de aprendizagem e questionamentos, como que me cobrando de uma só vez a experiência que eu deveria ter se tivesse tido um filho.  
E lá se foram sete anos, o meu pânico sumiu, já tiro de letra os conflitos de cada fase e aprendi a aceitar e curtir o dia das mães especial que tenho com eles sempre no sábado que antecede o domingo oficial das mães, porque mãe é sobretudo amor e amor é o que temos de sobra entre a gente.

- Zizi, a gente ainda é o pacote que veio junto com o papai? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário